terça-feira, 23 de setembro de 2014

Autoconhecimento: Procurando o eixo



     Há pessoas com talento inato para a busca do equilíbrio psicológico. Sem a necessidade de conhecimentos teóricos, refletem continuamente sobre suas características e suas atitudes, de forma a promover, ao longo da vida, aperfeiçoamentos em suas relações com os demais. No outro extremo, há aqueles que vivem num mundo à parte, com referências egocêntricas tão exacerbadas que não levam em conta os feedbacks que as pessoas ao seu redor lhes transmitem; algumas vezes, nem chegam a perceber tais feedbacks.
     No gradiente entre esses dois extremos, a grande maioria das pessoas pode buscar se autoconhecer ao longo da vida, de forma a desenvolver um ambiente saudável e maduro de relacionamentos, onde a afetividade possa frutificar plenamente. 
    Em geral, somos “intimados” a pensar sobre nossas condutas em momentos de ruptura e crise: o fim de um relacionamento, a perda do emprego, a briga com o pai ou com a mãe, etc. A decepção com o supostamente externo – o mundo, o outro – gera sofrimento, mas pode levar ao aprendizado e à maturidade saudável; só que, às vezes, leva a ressentimentos e traumas difíceis de serem superados. A decepção consigo mesmo – a ingenuidade ao lidar com fatos, a inexperiência, etc. – pode gerar superações maduras; mas, às vezes, leva a retraimentos e inseguranças em relação ao futuro.

     Buscar o eixo, como se diz, é uma tarefa para toda a vida, uma vez que o ponto de equilíbrio muda com o tempo. Um dos elementos fundamentais desse equilíbrio é a administração dos desejos frente às pressões ditas externas (da família e da sociedade). Tais exigências se transformam ao longo do tempo. Mesmo atualmente, quando, em tese, existe mais respeito às tendências e preferências individuais (em relação ao passado), as pressões continuam enormes. Pais muitas vezes pressionam por performances escolares para as quais os filhos podem não ter propensão. Há uma pressão por sucesso profissional impossível de ser atingido por todos. A sociedade ainda não aceita integralmente predisposições de gênero que, numa sociedade livre, deveriam ser respeitadas. E assim por diante.
     A passionalidade é outra fonte de desequilíbrios. A possessividade afetiva, no passado até estimulada e vista como reflexo do amor, atualmente é reconhecida como patologia, quando exagerada, impedindo relacionamentos saudáveis.

    
 Não há receita para a busca de equilíbrio. Cada um deve refletir sobre a forma de realizar seus desejos e de enfrentar as resistências,  e a psicoterapia pode ser de grande ajuda em alguns momentos da vida. Buscar o eixo é uma arte delicada e permanente, que exige reflexão e esforço, mas, sem dúvida, vale a pena.



Por: Fernanda Zanella de Brito Miloni é psicóloga - E-mail: fer.miloni@yahoo.com.br


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