Há pessoas com talento
inato para a busca do equilíbrio psicológico. Sem a necessidade de
conhecimentos teóricos, refletem continuamente sobre suas características e
suas atitudes, de forma a promover, ao longo da vida, aperfeiçoamentos em suas
relações com os demais. No outro extremo, há aqueles que vivem num mundo à
parte, com referências egocêntricas tão exacerbadas que não levam em conta os
feedbacks que as pessoas ao seu redor lhes transmitem; algumas vezes, nem
chegam a perceber tais feedbacks.
No gradiente entre
esses dois extremos, a grande maioria das pessoas pode buscar se autoconhecer
ao longo da vida, de forma a desenvolver um ambiente saudável e maduro de
relacionamentos, onde a afetividade possa frutificar plenamente.
Em geral, somos “intimados” a
pensar sobre nossas condutas em momentos de ruptura e crise: o fim de um
relacionamento, a perda do emprego, a briga com o pai ou com a mãe, etc. A
decepção com o supostamente externo – o mundo, o outro – gera sofrimento, mas
pode levar ao aprendizado e à maturidade saudável; só que, às vezes, leva a
ressentimentos e traumas difíceis de serem superados. A decepção consigo mesmo
– a ingenuidade ao lidar com fatos, a inexperiência, etc. – pode gerar
superações maduras; mas, às vezes, leva a retraimentos e inseguranças em
relação ao futuro.
Buscar o eixo, como se
diz, é uma tarefa para toda a vida, uma vez que o ponto de equilíbrio muda com
o tempo. Um dos elementos fundamentais desse equilíbrio é a administração dos
desejos frente às pressões ditas externas (da família e da sociedade). Tais
exigências se transformam ao longo do tempo. Mesmo atualmente, quando, em tese,
existe mais respeito às tendências e preferências individuais (em relação ao
passado), as pressões continuam enormes. Pais muitas vezes pressionam por
performances escolares para as quais os filhos podem não ter propensão. Há uma
pressão por sucesso profissional impossível de ser atingido por todos. A sociedade
ainda não aceita integralmente predisposições de gênero que, numa sociedade
livre, deveriam ser respeitadas. E assim por diante.
A passionalidade é
outra fonte de desequilíbrios. A possessividade afetiva, no passado até
estimulada e vista como reflexo do amor, atualmente é reconhecida como
patologia, quando exagerada, impedindo relacionamentos saudáveis.
Não há receita para a
busca de equilíbrio. Cada um deve refletir sobre a forma de realizar seus
desejos e de enfrentar as resistências, e a psicoterapia pode ser de
grande ajuda em alguns momentos da vida. Buscar o eixo é uma arte delicada e
permanente, que exige reflexão e esforço, mas, sem dúvida, vale a pena.
Por: Fernanda Zanella de Brito Miloni é psicóloga - E-mail: fer.miloni@yahoo.com.br
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